SÃO PAULO – A última sessão do trimestre para o Ibovespa começou sem uma direção definida, entre expectativa por novos estímulos de bancos centrais pelo mundo, dados econômicos animadores da China e alta do petróleo, mas ainda com ambiente de cautela por conta do avanço do coronavírus no mundo. Porém, na reta final do pregão, o índice passou a operar em maior queda, fechando com perdas de cerca de 2%.
Entre os destaques de alta ficaram os ativos da Petrobras (PETR3;PETR4), com ganhos de 5%, apesar da desaceleração dos ganhos do petróleo WTI, para alta de cerca de 1%, após chegar a subir mais de 4% depois de seguidas baixas. O movimento de alta registrado mais cedo foi atribuído à notícia de que EUA e Rússia concordaram em debater a estabilização dos mercados da commodity, afetados pela pandemia do coronavírus e a guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia. Apesar disso, o petróleo registrou seu pior trimestre na história.
As ações da Vale (VALE3) também registraram ganhos, após dados da China; já o minério de ferro à vista negociado em Qingdao teve alta de 1,4%, a US$ 83,70 a tonelada.
Dados oficiais mostraram que o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial da China subiu de 35,7 em fevereiro para 52 em março, superando a expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam alta a 51,5.
Já o PMI de serviços chinês avançou de 29,6 para 52,3 no mesmo período. As leituras acima de 50 mostram que tanto a manufatura quanto o setor de serviços da China voltaram a se expandir em março, após se contraírem em ritmo recorde no mês passado em função do coronavírus.
A ação da CVC (CVCB3), por sua vez, caiu cerca de 14% após a companhia apresentar resultados preliminares não-auditados. O grande destaque de queda, contudo, ficou com a Cogna (COGN3), que viu seus papéis caírem mais de 20% após a divulgação do balanço do quarto trimestre.
Outras ações em queda foram a JBS (JBSS3) e Ambev (ABEV3), em meio às mudanças de recomendações.
O Goldman Sachs cortou a recomendação para JBS de neutra para venda, vendo risco maior de que a divisão de carne bovina nos EUA da companhia sofra desaceleração em volumes e apresente margens menores a partir do segundo semestre. Segundo os analistas, o valuation e expectativas devem começar a descontar um risco maior de que as margens de carne bovina nos EUA tenham atingido o pico e de uma potencial inflexão no ciclo.
O banco também vê risco de alavancagem operacional negativa na divisão de carne bovina nos EUA, a maior geradora de caixa nos últimos anos, à medida que as vendas são prejudicadas pelo surto do coronavírus, e observa que, embora muitos investidores tenham antecipado um potencial re-rating das ações, impulsionado por um possível IPO nos EUA, as perspectivas de mudanças significativas na estrutura de capital da empresa podem se tornar cada vez mais difíceis no curto prazo.
O preço-alvo para JBS foi reduzido de R$ 29,10 para R$ 19,20. O Goldman manteve recomendação de compra para BRF, a preferida do banco em sua cobertura na área de proteína, enquanto a recomendação para Minerva foi elevada de venda para neutra.
Já a Ambev teve a recomendação reduzida de outperform (desempenho acima da média do mercado) para “neutro”, com o preço-alvo sendo cortado de R$ 22,00 para R$ 14,50. O banco projeta queda nas vendas pelo canal ‘on trade’, bares e restaurantes, em meio ao coronavírus, canal representa 55% das vendas de cerveja da Ambev.
Confira os destaques:
CVC (CVCB3)
A CVC, maior operadora turística do Brasil, divulgou seu balanço não auditado do ano de 2019 – a publicação não traz detalhes por trimestres. A empresa destacou que houve erros contábeis de R$ 250 milhões descobertos recentemente.
Segundo as informações preliminares, em 2019 a CVC obteve um lucro líquido de R$ 187,6 milhões, em ligeira queda sobre 2018, quando o lucro líquido foi de R$ 191,7 milhões.
No Brasil, a receita líquida da operadora atingiu R$ 1,55 bilhão em 2019, em expansão de 5,2% sobre o faturamento líquido de R$ 1,47 bilhão obtido em 2018. Na Argentina, a receita líquida da CVC cresceu de R$ 18,8 milhões em 2018 para R$ 110,9 milhões em 2019, um crescimento de 490%. Somadas as receitas líquidas de Brasil e Argentina, o faturamento líquido da CVC avançou 11,3% sobre 2018, para R$ 1,66 bilhão em 2019. O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da operadora caiu 0,5% sobre 2018, para R$ 560,3 milhões em 2019. A margem Ebitda também recuou, de 37,7% em 2018 para 33,7% em 2019.
Em 28 de fevereiro, a CVC disse em comunicado ao mercado que encontrou indícios de erros na contabilização de valores transferidos aos prestadores de serviços turísticos; a companhia estimou impacto potencial acumulado na receita líquida de vendas de R$ 250 milhões.
A companhia informou que excepcionalmente não divulgará as demonstrações financeiras referentes ao exercício social encerrado em 31 de dezembro de 2019 no prazo regulamentar devido à complexidade dos processos de revisão e reconciliação relacionados à contabilização dos valores mencionados em fevereiro e da apuração independente.
Segundo a companhia, os processos foram “substancialmente afetados pelos impactos operacionais da pandemia de COVID-19 nos trabalhos das equipes envolvidas e dos auditores independentes”. A CVC disse estar trabalhando na conclusão da elaboração das demonstrações financeiras para apresentá-las “na maior brevidade possível”.
Segundo o Itaú BBA, os números apresentados foram negativos. Embora o total de pedidos de R$ 4,7 bilhões supere a estimativa do banco em 15%, a lucratividade foi muito menor do que os analistas esperavam. O take-rate (percentual da receita líquida sobre as reservas) foi de 9,0%, 70 pontos-base abaixo da previsão e a margem Ebitda foi de 26,6% em relação à expectativa dos analistas de 42,5%.
Além disso, o lucro líquido reportado foi positivamente impactado por uma reversão de provisões mas, quando foram elaboradas as estimativas do Itaú BBA ainda não se havia conhecimento do erro contábil, que poderia ter inflado o take-rate em cerca de 0,5%.
“Os números ajustados para 2019 podem indicar um novo nível de rentabilidade. Portanto, aguardamos mais detalhes sobre os erros contábeis e o número auditado da CVC para entender melhor o impacto em nossas estimativas. Estamos mantendo a recomendação de ações da CVC em revisão por enquanto”, destacam.
Cogna (COGN3)
A Cogna (antiga Kroton), maior grupo educacional privado do Brasil, divulgou balanço do quarto trimestre de 2019 e do ano passado consolidado. A Cogna informou que obteve um lucro líquido ajustado de R$ 51,6 milhões no período, uma queda de 73,1% sobre igual período de 2018.
A receita líquida da Cogna avançou 0,5% no quarto trimestre do ano passado, sobre igual período de 2018, para R$ 1,92 bilhão.
Já o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 534 milhões no quarto trimestre do ano passado, um recuo de 9,5% sobre igual período de 2018. Os resultados da Cogna vieram mais fracos no quarto trimestre por causa dos custos da aquisição da Somos, uma empresa de educação adquirida no período, e do aumento da depreciação.
No fechamento de 2019, a Cogna obteve um lucro líquido de R$ 771,9 milhões, uma queda de 48,9% sobre 2018, quando teve lucro líquido de R$ 1,5 bilhão. Já a receita líquida do grupo Cogna avançou 15,9% em 2019, sobre 2018, para R$ 7,02 bilhões. O Ebitda do ano fechado de 2019 foi de R$ 2,7 bilhões, uma queda de 5,5% sobre 2018.
A Cogna, que inclui 73 empresas de educação, informou que está com posição de caixa tranquila, graças aos R$ 2,6 bilhões que levantou em oferta pública de ações na B3 em 11 de fevereiro deste ano. “Estamos em uma situação confortável em termos de liquidez financeira”, comentou a empresa. O Capex da Cogna, contudo, caiu 41% no quarto trimestre do ano passado, para R$ 121,8 milhões. Essa soma não inclui a aquisição da Somos. A dívida líquida da Cogna avançou 44,5% em 2019, sobre 2018, par R$ 7,1 bilhões. O número total de alunos da Cogna, contando ensino básico, médio e superior, caiu 4% no quarto trimestre de 2019, sobre igual trimestre de 2018, para 856.107 alunos. Segundo o grupo, com o corte federal no FIES, houve retração de 53% no número de alunos estudavam com bolsas do governo federal.
Conforme destaca o Itaú BBA, a provisão para devedores duvidosos ficou acima do esperado, enquanto a receita líquida ficou praticamente em linha com o consenso de mercado e inferior às estimativas do banco; já o Ebitda ficou significativamente abaixo das expectativas dos analistas e de consenso de mercado, traduzindo-se em uma margem de 27,7% no período.
“Embora os resultados da Cogna tenham sido afetados principalmente por um evento não recorrente que a empresa optou por explicar com prudência, não descartamos que os investidores fiquem frustrados com os números relatados”, avaliaram os analistas, antes da abertura do mercado.
A empresa optou cautelosamente por aumentar as provisões no período em R$ 181 milhões (total de R$ 336 milhões) para contabilizar duas despesas atípicas, não relacionadas ao seu desempenho operacional: efeito não recorrente pela migração de estudantes para outro software de faturas e, mais importante, levar em conta incertezas nos resultados dos cenários do coronavírus, que podem afetar a renda disponível dos alunos.
Petrobras (PETR3;PETR4)
O Conselho de administração da Petrobras decidiu aderir à iniciativa da diretoria executiva da companhia e aprovou o adiamento de 30% da remuneração dos seus membros nos meses de
abril, maio e junho, para pagamento em setembro, disse a estatal em comunicado.
A “decisão do conselho de administração está alinhada à série de medidas adotadas pela Petrobras para redução de custos e preservação do caixa no atual cenário de incertezas, a fim de reforçar sua solidez financeira e resiliência dos seus negócios”.
Em 26 de março, a Petrobras havia anunciado a postergação do pagamento de 30% da remuneração mensal total do presidente, diretores, gerentes executivos e gerentes gerais.
Hypera (HYPE3)
A Hypera Pharma comunicou que fará emissões de debêntures, em duas séries, no valor total de R$ 3,5 bilhões. As debêntures serão não conversíveis e na quantidade total de 350 mil papéis. Segundo a indústria farmacêutica, cada debênture terá o valor nominal de R$ 10 mil. A Hypera informou que a primeira emissão corresponderá a um valor de R$ 2,48 bilhões, da primeira série; e R$ 1,015 bilhão da segunda série. Os papéis da primeira série da emissão terão um período de maturação de seis anos a partir da emissão, com um vencimento em 3 de abril de 2026. A remuneração será semestral, a partir de outubro deste ano.
JBS (JBSS3)
A JBS cortou a produção em planta na Pensilvânia, nos EUA, em meio à pandemia de coronavírus. A unidade em Souderton teve a produção reduzida temporariamente depois que vários gerentes seniores
apresentaram sintomas semelhantes aos da gripe, disse a companhia em comunicado.
“Por precaução, esses membros da equipe foram enviados para casa para monitorar a saúde à luz da disseminação contínua do coronavírus”. A planta continuará realizando operações de carne moída. A companhia espera retorno às operações normais em 14 de abril.
Arezzo (ARZZ3)
O Conselho aprova recompra de até 4,48 milhões de ações. A quantidade de ações ordinárias a ser
adquirida corresponde a 10% dos 44,8 milhões de ações em circulação no mercado, disse a companhia em comunicado.
O prazo da recompra é de até 18 meses contados a partir de 4 de abril de 2020 até 4 de outubro de 2021. A instituição intermediária é o Credit Suisse. O “programa de recompra tem por objetivo incrementar a geração de valor para os acionistas da companhia em razão do desconto atual das ações no mercado”.
Mahle-Metal Leve (LEVE3)
A Mahle-Metal Leve, indústria de autopeças, divulgou balanço e comunicou que obteve em 2019 um lucro líquido de R$ 259 milhões, uma queda de 11% sobre 2018. O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 5,4% em 2019, sobre 2018, para R$ 440,8 milhões.
A receita líquida da Mahle-Metal Leve foi de R$ 2,52 bilhões em 2019, uma pequena retração de 2,5% sobre os R$ 2,59 bilhões de 2018. A Mahle-Metal Leve, como tantas empresas de autopeças e do setor automotivo, foi prejudicada em 2019 pela recessão na Argentina. As vendas para o mercado argentino caíram 32% no ano passado, enquanto no Brasil cresceram 1,8%.
Linx (LINX3)
A Linx, uma das três maiores empresas brasileiras de software com capital aberto, divulgou balanço do quarto trimestre de 2019 e do ano passado inteiro. A Linx informou que obteve um lucro líquido de R$ 9,4 milhões no quarto trimestre de 2019, uma queda de 45,4% sobre igual período de 2018.
O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 53,2 milhões no quarto trimestre, avanço de 16,5% sobre igual período de 2018. Já a receita líquida da empresa no quarto trimestre de 2019 foi de R$ 221,8 milhões, um avanço de 21,8% sobre 2018. No ano consolidado de 2019, também houve queda no lucro líquido.
A Linx informou que lucrou R$ 38,8 milhões em 2019, queda de 45% sobre 2018, quando lucrou R$ 71 milhões. A receita operacional líquida subiu para R$ 788 milhões em 2019, de R$ 685,5 milhões em 2018. Os resultados incluem as empresas de informática da Linx nos Estados Unidos.
A Linx fechou 2019 com um caixa líquido de R$ 75,8 milhões, superior ao do final de 2018, quando o caixa era de R$ 49,8 milhões. Esse dado é importante, pois em 2019 a Linx adquiriu três empresas: a Seta Digital, por R$34,9 milhões; a Millennium, por R$ 94,8 milhões; e a Hiper, por 32,3 milhões. Com as aquisições, a Linx reforçou sua presença nos segmentos de software para automação comercial e sistemas de ERP – gestão empresarial.
Even (EVEN3)
A construtora e incorporadora imobiliária Even divulgou balanço do quarto trimestre de 2019 e do ano passado inteiro. A empresa obteve um lucro líquido de R$ 31 milhões no quarto trimestre de 2019, revertendo prejuízo de R$ 92 milhões em igual período de 2018. No ano consolidado de 2019, a Even também saiu do vermelho, com um lucro líquido de R$ 119 milhões – em 2018, a empresa teve prejuízo de R$ 161 milhões.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 63,4 milhões no quarto trimestre de 2019. Em igual período de 2018, o Ebitda ficou negativo em R$ 56 milhões. No fechamento de 2019, o Ebitda da empresa foi de R$ 295 milhões, também revertendo o resultado do ano inteiro de 2018, quando o Ebitda foi negativo em R$ 21 milhões.
A Even conseguiu reduzir as despesas operacionais, de R$ 128,9 milhões no quarto trimestre de 2018 para R$ 80 milhões no último trimestre de 2019. A Even informou que entregou em 2019 um total de 14 empreendimentos, com um Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 1,4 bilhão.
Houve crescimento nos valores em comparação a 2018, quando a empresa também entregou 14 empreendimentos, mas com um VGV bem menor, de R$ 737 milhões. A empresa adquire terrenos principalmente por permutas. No final de 2019, a empresa adquiriu 5 terrenos por permuta, sendo 2 em São Paulo e 3 no Rio Grande do Sul. A empresa também atua no Rio de Janeiro e Minas Gerais. A receita líquida da empresa cresceu 32% sobre 2018, para R$ 1,9 bilhão em 2019.
JSL (JSLG3)
O grupo logístico JSL, um dos maiores do Brasil, divulgou balanço do quarto trimestre de 2019 e do ano passado consolidado. O JSL teve um forte crescimento de 99% no lucro líquido no quarto trimestre de 2019, sobre 2018, para R$ 120,6 milhões.
O lucro líquido antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) avançou 41,3% no quarto trimestre, sobre igual período de 2018, para R$ 611,2 milhões. Já a receita líquida do grupo cresceu 23,5% no quarto trimestre, sobre o mesmo trimestre de 2018, para R$ 2,63 bilhões.
O resultado do ano fechado de 2019 também foi positivo, com o lucro líquido crescendo 68,4% sobre 2018, para R$ 318,6 milhões. Os dados consolidados do JSL incluem as quatro empresas do grupo: JSL Logística, a Vamos (revendas e locação de caminhões), CS Brasil (gestão de frotas) e a locadora de carros Movida (aluguel e vendas de carros semi-novos).
Santos Brasil (STBP3)
A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) reafirmou a nota “brAAA” da empresa de logística portuária Santos Brasil, que opera terminais nos portos de Santos (SP), Imbituba (SC) e Vila do Conde (PA). Segundo a Santos Brasil, a nota “brAAA” é a mais alta da agência americana na Escala Nacional Brasil. Mas a S&P mudou a perspectiva de rating da Santos Brasil de “estável” para “negativa”, por causa da epidemia do coronavírus. A agência americana afirma que a nota pode ser modificada novamente para “estável’ tão logo os efeitos da epidemia sejam dissipados.
Ultrapar (UGPA3)
O Bank of America elevou a recomendação para os ADRs (American Depositary Receipts, ou recibo de ações) da Ultrapar para compra, com preço-alvo de US$ 22.
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