(Bloomberg) — No auge da crise financeira global, os enormes gastos da China em construção e infraestrutura resgataram a demanda por commodities e reverteram a forte queda de preços. Como a pandemia de coronavírus ameaça uma crise ainda pior, dificilmente o governo de Pequim conseguirá causar o mesmo tipo de impacto.
Com o mundo prestes a entrar em forte recessão, a China sinaliza mais medidas de estímulo fiscal além das iniciativas já tomadas, que giraram em torno de injetar liquidez na economia. Mas a esperança de que a China possa estimular a demanda por matérias-primas, como cobre e minério de ferro, é minada pela incerteza quanto ao tempo e escopo de qualquer novo investimento.
“Durante as recessões passadas, a China foi bastante agressiva, não apenas impulsionando o país, mas puxando o resto do mundo através da demanda chinesa”, disse Xiao Fu, chefe de estratégia da BOCI Global Commodities. “O benefício de iniciar um grande pacote de infraestrutura agora não seria tão impactante quanto há 10 anos.”
É uma grande mudança em relação a 2008, quando o Partido Comunista investiu 4 trilhões de yuans (US$ 560 bilhões) em variados projetos, como em trens de alta velocidade, aeroportos e obras de esgoto. A medida sustentou a economia da China, amenizou a crise global e deu o tom para uma década de vendas crescentes de matérias-primas para o mercado chinês.
Diferenças
Mas existem algumas diferenças cruciais em relação à situação atual. Em primeiro lugar, a China precisa retomar as operações após a paralisação autoimposta para colher todos os benefícios dos gastos do governo. A economia operava a um ritmo equivalente a cerca de 90% do normal até o fim da semana passada, de acordo com a Bloomberg Economics.
Mais importante, a frenética construção da década passada deixou a economia da China endividada. O governo tem procurado evitar novas bolhas de ativos e riscos financeiros. O setor imobiliário, um dos principais impulsionadores da demanda por metais, dificilmente verá uma grande mudança de política por esse motivo.
A China tem muitos grandes projetos tradicionais aguardando nos bastidores, desde conectar cidades ao redor de Pequim ou na costa sul até programas de redução da pobreza ou gastos relacionados ao meio ambiente.
Mas os detalhes dos planos são escassos, e outros fatores pesam contra as medidas que dariam um impulso decisivo aos metais.
Em vez disso, o Goldman Sachs espera “investimentos direcionados em infraestrutura”, para os quais vê amplo espaço, segundo relatório divulgado no início deste mês. É provável que a China “renuncie” a um estímulo em grande escala em pé de igualdade com o da crise financeira ou durante a desaceleração de 2014-2016, de acordo com a Nomura International.
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