SÃO PAULO – Em live realizada pela XP Investimentos neste domingo (29), Mariano Gomide de Faria, CO-CEO da VTEX, uma das maiores empresas de e-commerce do mundo, Rony Meisler, fundador da Reserva, Paulo Correa, CEO da C&A, e Rafael Brandão, da Microsoft, falaram sobre os desafios do setor varejista e de ampliar a infraestrutura digital dos serviços em tempos de coronavírus.
A percepção dos executivos é de que essa crise é extensa e que haverá muitos momentos difíceis, uma vez que as operações em lojas físicas praticamente pararam em várias partes do mundo por conta da doença, mas haverá lições que transformarão o cenário para as empresas e o comportamento dos consumidores uma vez passada a pandemia.
“A crise vai dar aspectos de sobrevivência que farão com que transformemos o nosso futuro”, destacou Gomide, da VTEX, ressaltando que o poder da simplicidade norteará o poder da reação.
Ele aponta algumas tendências que devem acontecer uma vez reabertas as lojas quando passada a pandemia, como uma maior tendência de digitalização mesmo nas lojas físicas, o uso delas como centros de distribuição e a mudança da figura do vendedor, que deixará de ser “só um vendedor” e deverá ampliar o seu escopo de atuação, de modo a melhorar a experiência do consumidor.
Gomide, que trabalha em Londres, onde é a sede da companhia, aponta que foi um fator positivo que o Brasil tenha agido cedo, em contraponto a outros países da Europa, como o próprio Reino Unido, Espanha, Itália e Holanda.
Nesse sentido, em meio às discussões sobre se deve ou não abrir o comércio, Paulo Correa, da C&A, destaca que o varejo, no final, é um serviço que se presta à sociedade e que, se a população está em casa com medo de sair à rua e pegar a doença, não faz sentido abrir a loja só por abrir.
Para ele, isso pode causar dois problemas: o primeiro deles é justamente a movimentação baixa mesmo com a reabertura (Correa considera que, mesmo depois da pandemia, a retomada do consumo será lenta,) e o segundo é que, caso haja uma reabertura precipitada, o número de casos pode acelerar muito e levar a um fechamento ainda por mais tempo do varejo.
Assim, agora, Correa destaca que a empresa só tem uma loja, que é a digital: “isso gera um engajamento exponencial para a transformação digital que já estava acontecendo”, avalia.
Já Meisler, da Reserva, destaca que houve uma mobilização na companhia para trabalhar de maneira remota e avalia com bastante cautela os movimentos para reabertura de lojas.
Ele aponta que deve que mudar a lógica operacional das unidades de negócios e a Reserva passou a definir semanalmente a sua estratégia: “um sócio nos disse que a gente nunca foi tão produtivo na vida. É a primeira vez em treze anos de história que temos uma única meta e um único objetivo, que é passar por essa maluquice vivos e fortes. O poder de um único objetivo aliado à sobrevivência tem um poder que é intangível. Somos 1.200 vendedores agora”.
Dependência da China
Gomide também reforça um outro componente importante que foi evidenciado durante a crise: a dependência de diversos componentes vindos de fábricas da China que, se parassem por mais um mês, poderiam comprometer a produção em diversas escalas no mundo todo.
Através dessa crise, para o executivo, haverá uma redistribuição geográfica para outros países, inclusive Brasil e México. “Se a China se não produzisse, chegaríamos muito perto de uma crise real. Agora, a crise atual é fabricada pelo lockdown”, avalia.
Para Gomide, essa não deve ser a maior crise que o Brasil já enfrentou, mas que isso dependerá muito da velocidade de reação: “se a sociedade reagir rápido, o Brasil vai se sair melhor, vai demorar, mas vai se sair melhor”.
Como fazer o dinheiro chegar na ponta
Uma das questões que mais são ressaltadas como preocupantes é como a ajuda do governo para aliviar o caixa das empresas chegará aos pequenos fornecedores e comerciantes, que não possuem caixa para sobreviverem um longo tempo. Correa, da C&A, destaca que há uma cadeia de fornecedores que dependem de grandes varejistas e deve haver sensibilidade para equacionar a história.
“À medida que compulsório foi liberado, houve um empoçamento do capital nos bancos – e isso é crítico para grandes empresários e para os fornecedores”, avalia.
Para Correa, não há como sair “arranhado” da crise. Mas, mais do que a dimensão do impacto financeiro, há o impacto do comportamento, com mais pessoas usando as ferramentas de compra online e com a perspectiva de um comportamento diferente do consumidor, que estará mais conectado à sua casa depois de um longo período de quarentena.
“Tem uma história maior por trás disso e que vai afetar o que consumir, o perfil de consumo, vai ser diferente do que tínhamos até então”, avalia.
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