SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira (31), consolidando uma baixa de 29,91% em março, o pior mês desde agosto de 1998, quando caiu 39,55%. No trimestre, o desempenho do principal índice acionário da B3 foi o pior de toda a história da Bolsa: uma retração de 36,86%, segundo dados da consultoria Economatica. Já o dólar subiu 15,92% em março.
Se for levada em consideração a cotação do dólar Ptax venda, a desvalorização do real no primeiro trimestre de 2020 foi de 28,98%, a terceira maior desde o Plano Real, conforme a Economatica.
Este período foi marcado por seis circuit breakers acionados desde que começaram as tensões por conta da pandemia de coronavírus.
Se a visão do final do ano passado de analistas de mercado parecia ser positiva para 2020, o começo do ano já foi de turbulência, após ataque dos Estados Unidos no Iraque matar o general Qassem Soleimani, principal comandante militar do Irã, fazendo escalar a tensão entre americanos e iranianos. Este foi apenas o primeiro “cisne negro” de 2020, em referência a eventos não esperados pelo mercado.
Logo depois, na segunda quinzena de janeiro, ganhou força e impacto entre os investidores a notícia sobre o novo coronavírus que, até então, era um fenômeno restrito à província de Wuhan.
Naquele momento, até então, o impacto era visto como algo um tanto distante, ainda mais por se tratar de uma doença a princípio menos letal, ainda que mais contagiosa, que a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), que atingiu o país entre 2002 e 2003 e levou a morte de 774 pessoas. Contudo, dada a importância do país dada a sua posição no ranking de economias globais, as bolsas já foram abaladas.
Porém, o novo coronavírus, que leva à enfermidade denominada Covid-19, teve uma velocidade impressionante e levou a mais mortes do que a SARS em pouco tempo, demorando apenas um mês para sair da China, enquanto a SARS demorou três meses.
A situação se agravou ainda mais quando ela chegou a outros países, tornando-se notoriamente letal na Itália e se espalhando por outros países como Espanha, França, Estados Unidos, este último se tornando o mais novo epicentro da enfermidade. O primeiro caso no Brasil aconteceu em 26 de fevereiro e, desde então, diversas medidas já foram tomadas para restringir a circulação de pessoas, o que levou a revisões drásticas de números para a economia brasileira, com expectativas de uma forte recessão.
O mercado nesta terça
Hoje, o Ibovespa voltou a cair seguindo as bolsas dos Estados Unidos em uma sessão volátil, com investidores atentos ao avanço do coronavírus no mundo e à expectativa por estímulos. O Dow Jones caiu 1,84% e registrou seu pior trimestre desde 1987.
Já são 800 mil casos globais de infecção pela Covid-19 e diversos países estão estendendo as medidas de quarentena e isolamento social. Por outro lado, esta terça-feira (31) foi dia de dados positivos da China, mostrando que a segunda maior economia do mundo já começou a se recuperar da crise provocada pela pandemia.
O Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria ficou em 52 pontos em março, após ter afundado a 37.5 pontos em fevereiro, informa a CNN. A projeção da agência Reuters era de que cresceria a 45 pontos em março. O índice PMI composto, formado por indústria mais serviços, foi de 52,3 pontos, após ter afundado a 29,6 pontos em fevereiro.
O Ibovespa fechou em queda de 2,17%, aos 73.019 pontos com volume financeiro negociado de R$ 23,75 bilhões, recuando 36,9% desde o início do ano.
Enquanto isso, o dólar futuro para abril tem leve variação positiva de 0,07%, para R$ 5,199. O dólar comercial, por sua vez, registrou ganhos de 0,24%, cotado a R$ 5,1933 na compra e R$ 5,1944 na venda.
O câmbio chegou a virar para queda após o Federal Reserve informar que abriu uma linha de recompra para bancos centrais estrangeiros para apoiar o bom funcionamento dos mercados financeiros, porém já voltou a subir. Nos últimos dias, o Fed já havia elevado a frequência de leilões de operações de linhas de swap com outros bancos centrais.
No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu 11 pontos-base a 4,06%, o DI para janeiro de 2023 teve alta de dois pontos-base a 5,40% e o DI para janeiro de 2025 avançou oito pontos-base a 6,85%.
Por aqui, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) mostrou um aumento no desemprego para 11,6% no trimestre até fevereiro, em linha com a expectativa mediana dos economistas de mercado compilada no consenso Bloomberg. O número de pessoas desempregadas é 12,3 milhões.
O aumento, na comparação com o trimestre terminado em novembro (11,2%), significa a interrupção de dois trimestres seguidos de quedas estatisticamente significativas no desemprego.
Do lado europeu, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da zona do euro subiu 0,7% na comparação anual de março, desacelerando fortemente em relação ao aumento de 1,2% observado em fevereiro em meio aos efeitos da pandemia de coronavírus, segundo dados preliminares divulgados hoje pela agência de estatísticas da União Europeia, a Eurostat. O resultado veio abaixo da expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam alta de 0,8%.
Nos Estados Unidos, o Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse que o governo está disposto a pedir mais dinheiro ao Congresso se o pacote de US$ 2 trilhões já aprovado for insuficiente para conter os efeitos da pandemia sobre a economia.
Política
Os ministros da Justiça, Sérgio Moro, e da Economia, Paulo Guedes, fizeram uma união nos bastidores em apoio ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e na defesa das medidas de distanciamento social e quarentena da população para combater o avanço do coronavírus.
Com o apoio de alguns militares, o trio formou um bloco antagônico ao presidente Jair Bolsonaro, contrário ao confinamento das pessoas e ao fechamento do comércio, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo. Com o apoio de Moro e Guedes a Mandetta, o isolamento do presidente aumenta, porque o ministro da Saúde já tem o apoio do Legislativo e do Judiciário. A avaliação feita pelo ministro Moro a aliados é que o presidente está descontrolado e deixa aflorar sentimentos de raiva contra supostos inimigos.
Noticiário corporativo
A Hypera Pharma comunicou que realizará emissões de debêntures no valor total de R$ 3,5 bilhões. A primeira emissão ocorrerá em 3 de abril, com os papéis da primeira série fazendo um montante de R$ 2,48 bilhões; a segunda emissão, em data não definida, deverá levantar o valor de R$ 1,015 bilhão. Na noite de ontem, perto do fim da temporada de balanços, a Mahle-Metal Leve e a construtora Even publicaram seus resultados de 2019. A Cogna (antiga Kroton) publica balanço na manhã de hoje.
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