Ganhar dinheiro não é uma tarefa fácil. A maioria das pessoas precisa suar muito para garantir o pão de cada dia e ainda formar um patrimônio. Por isso, é importante saber cuidar das finanças pessoais e não deixar todo esse esforço ir pelo ralo. Nesse contexto, é fundamental saber o que é patrimônio líquido (PL) e como calculá-lo.
Conhecer esse dado vai colaborar para que você tenha a real dimensão da sua situação financeira e possa tomar decisões mais bem-fundamentadas. Por isso, neste artigo vamos explicar melhor o conceito de patrimônio líquido, quais são os itens que o compõem e como são feitos os seus cálculos calcular e a declaração no Imposto de Renda. Acompanhe!
O que é patrimônio líquido?
Independentemente de estarmos falando de uma empresa ou da vida financeira de uma pessoa, o conceito de patrimônio líquido é o mesmo. Na contabilidade, patrimônio líquido é o resultado da diferença entre ativos e passivos, ou seja, entre os bens e direitos que você possui e as suas obrigações.
Se vendesse todos os seus bens e os somasse com as aplicações e com o dinheiro que tem em conta e quitasse todas as dívidas e demais obrigações, você teria como resultado o seu patrimônio líquido (PL).
Imagine que tenha comprado uma casa que vale R$ 400 mil. Para isso, fez um financiamento e, até o momento, ainda deve R$ 300 mil. Nesse caso, seu PL é de R$ 100 mil, uma vez que você detém apenas um pedaço do imóvel. Ou seja, se vender a casa por R$ 400 mil, vai ter que usar R$ 300 mil para quitar a dívida e vai ficar com apenas R$ 100 mil.
É por isso que dizemos que o PL serve para dar a dimensão correta da riqueza de uma pessoa, de uma empresa ou, até mesmo, da riqueza no Brasil. Afinal, você pode ver alguém que mora em uma linda casa, num bairro nobre, tem dois carros novos na garagem e filhos estudando em colégios caros e concluir que ela é rica.
No entanto, pode acontecer de a casa e os carros serem financiados e a pessoa ter empréstimos no banco. Se fizermos a conta, não será uma surpresa ao descobrirmos que essa pessoa tem até um patrimônio líquido negativo, ou seja, as obrigações são maiores do que o valor dos bens.
Por outro lado, pessoas endividadas também podem ter um patrimônio líquido positivo, desde que a soma dos valores dos bens seja maior do que o das dívidas e obrigações. Imagine alguém que possua alguns imóveis, mas também tenha uma dívida no banco. Essa pessoa poderia vender um dos imóveis e quitar o financiamento, dependendo dos valores.
Quais itens fazem parte do patrimônio líquido pessoal?
Para responder a esta pergunta, vamos retomar o que dissemos no tópico anterior: o patrimônio líquido é a diferença entre ativos e passivos. Podemos dizer que ativos são bens e direitos. Isto é, são a parte positiva do seu patrimônio, enquanto passivos são obrigações, logo, a parte negativa do patrimônio.
Assim, alguns exemplos de ativos são:
- imóveis;
- automóveis;
- dinheiro em conta-corrente;
- aplicações financeiras;
- saldo do FGTS;
- direitos autorais.
Do outro lado, temos como exemplos de passivos:
- saldo devedor de financiamentos (de imóveis, carros etc.);
- saldo devedor de empréstimos;
- saldo devedor do cartão de crédito;
- empréstimo pessoal;
- dívidas com impostos;
- aluguéis a pagar;
- saldo devedor de compras parceladas.
Agora que você já sabe como classificar os itens que compõem a sua vida financeira, fica mais fácil conhecer o patrimônio pessoal.
Por que é importante ter controle sobre o patrimônio líquido pessoal?
Calculando o patrimônio líquido periodicamente, você vai conseguir formar um histórico e saber como está a sua evolução de verdade, e não apenas nas aparências. Isso vai ajudar a determinar o seu verdadeiro nível de riqueza e quão perto (ou longe) está de atingir seus objetivos.
Imagine que seu desejo é ter um patrimônio de R$ 1 milhão. Você tem um apartamento financiado de R$ 500 mil e R$ 100 mil aplicados. Faltam R$ 400 mil para alcançar a meta, certo? Errado, porque seu imóvel é financiado. Portanto, precisa descontar desses R$ 600 mil o saldo devedor do financiamento.
Conhecer o patrimônio líquido pessoal vai lhe ajudar a fazer um planejamento financeiro eficiente e identificar hábitos que deve mudar para alcançar objetivos e ter boa proteção patrimonial. Além de facilitar a sua vida na hora de preencher a declaração do Imposto de Renda.
Como calcular o patrimônio líquido considerando ativos e passivos?
Para responder a essa pergunta, vamos usar um personagem fictício, o Marcelo, e acompanhar a evolução financeira dele de 2010 a 2019, considerando ativos e passivos.
2010
Em 2010, o Marcelo tinha acabado de se formar na faculdade de administração e trabalhava como analista júnior em uma empresa. Seu salário era de R$ 3.500. Ele chegou ao fim de 2010 com R$ 5 mil na poupança e nenhuma dívida. Além disso, tinha mais R$ 3.500 de FGTS.
Dessa forma, seu patrimônio líquido era de R$ 8.500.
2011
No ano seguinte, Marcelo ganhou um aumento que elevou seu salário para R$ 4.025. Ele guardou mais um dinheiro e chegou a ter R$ 10 mil na poupança. Fez as contas e viu que conseguiria comprar um carro.
O modelo que ele queria, no entanto, custava R$ 30 mil. Então, deu R$ 10 mil de entrada e financiou R$ 20 mil. Juntou também mais R$ 4.000 na conta do FGTS, que chegou a R$ 7.500.
Naquele ano, o patrimônio líquido do Marcelo era de R$ 17.500, porque ele tinha um bem de R$ 30 mil, mas uma dívida de R$ 20 mil.
2012
No ano seguinte, o Marcelo decidiu fazer uma pós-graduação. Pagando a mensalidade do curso, ele não conseguiu juntar dinheiro para aplicar. Quando chegou o fim do ano, o carro, seu único bem naquele momento, havia sofrido uma depreciação e estava valendo R$ 27 mil.
No entanto, como ele continuou pagando as parcelas do financiamento, o saldo devedor do financiamento também havia diminuído e estava em R$ 16 mil. Enquanto isso, o FGTS continuou sendo depositado e, no fim de 2012, ele completou R$ 22 mil nessa conta.
Os ativos dele são:
- carro: R$ 27 mil;
- FGTS: R$ 22 mil.
Somando, dá R$ 49 mil. Mas ele também tem um passivo, que é o saldo devedor do financiamento do carro: R$ 16 mil.
Por isso, o PL do Marcelo ao fim de 2012 é de R$ 33 mil.
2013
Os esforços de Marcelo deram resultado e ele ganhou um novo aumento, que elevou seu salário para R$ 6.037. Com disso, decidiu quitar o carro. Como o salário subiu e ele não tinha mais a mensalidade do curso, conseguiu guardar R$ 1 mil por mês, mais o décimo-terceiro salário e as férias.
Assim, chegou ao fim do ano com R$ 20 mil em uma aplicação financeira. Como tinha passado o ano pagando o financiamento do carro, o saldo devedor tinha caído para R$ 14 mil. Dessa forma, usou o dinheiro aplicado para quitar o financiamento e ainda ficou com R$ 6 mil. Só que mais um ano havia se passado, e o carro então valia R$ 24 mil.
Além disso, a empresa onde ele trabalha continuou depositando o FGTS, de modo que o valor que ele tinha nessa conta aumentou.
Vamos ver como ficaram os ativos do Marcelo:
- carro: R$ 24 mil;
- FGTS: R$ 28 mil;
- aplicação financeira: R$ 6 mil.
Os ativos do Marcelo somaram R$ 58 mil. Visto que naquele ano ele não tinha nenhum passivo, o PL ficou em R$ 58 mil.
2014
Marcelo achou que era hora de dar mais uma reforço para a carreira e resolveu passar um mês estudando inglês em outro país. Como o câmbio não estava favorável, essa conta ficou em R$ 30 mil.
Ele tinha conseguido guardar mais R$ 12 mil e, somando-os com os R$ 6 mil que já tinha, ficou com R$ 18 mil. Para completar o valor necessário para a viagem, vendeu o carro por R$ 22 mil. Enquanto isso, a conta do FGTS continuou crescendo.
Ao fim do ano, os ativos do Marcelo estavam assim:
- FGTS: R$ 28 mil;
- aplicação financeira: R$ 10 mil.
Como não havia nenhum passivo, Marcelo encerrou o ano com um PL de R$ 38 mil — menos do que no ano anterior, já que o valor do carro e de parte das aplicações foram para a viagem.
2015
Nosso personagem já está com 28 anos e achou que era hora de dar um grande passo: comprar uma casa. Para isso, apertou o cinto ao máximo, guardou mais dinheiro e, vendo como o rendimento da poupança era ruim, procurou uma aplicação mais rentável.
Assim, chegou ao fim do ano com R$ 54 mil em aplicações financeiras e mais o dinheiro da conta do FGTS. Dessa forma, os ativos dele eram:
- FGTS: R$ 34 mil;
- aplicações financeiras: R$ 54 mil.
Ainda sem passivos, o PL do Marcelo subiu para R$ 88 mil.
2016
Marcelo encontrou um apartamento que cabia no bolso e fechou o negócio por R$ 300 mil, usando o valor das aplicações e do FGTS para dar a entrada. Agora, a situação dele mudou bastante. Veja como ficaram os ativos ao fim de 2015:
- imóvel: R$ 300 mil;
- FGTS: R$ 6 mil.
Assim, os ativos somavam R$ 306 mil. Quanto aos passivos, ele passou a ter um saldo devedor de R$ 212 mil no financiamento imobiliário.
Dessa forma, o PL do Marcelo ficou em R$ 94 mil naquele ano e subiu principalmente porque ele continuou recebendo o FGTS depois de ter sacado o dinheiro para dar entrada no apartamento.
2017
Marcelo e a namorada decidiram se casar. O orçamento para o casamento ficou em R$ 50 mil, e, como ele estava pagando parcelas altas no financiamento imobiliário, não havia tanto espaço para economizar muito. Fazendo um grande esforço, guardou R$ 1 mil por mês mais o 13º e as férias, chegando ao fim do ano com R$ 21 mil.
Enquanto isso, a namorada do Marcelo conseguiu guardar mais R$ 20 mil. Como ainda faltavam R$ 9 mil para fechar a conta, ele decidiu pegar um empréstimo no banco, no valor de R$ 9 mil. Durante aquele tempo, ele continuou pagando o apartamento e recebendo FGTS. Vamos ver como ficou o PL do Marcelo ao fim de 2017.
Ativos:
- imóvel: R$ 300 mil;
- FGTS: R$ 12 mil.
Passivos:
- saldo devedor do financiamento: R$ 200 mil;
- empréstimo pessoal: R$ 9 mil.
Somando os ativos e subtraindo os passivos, o PL do Marcelo ficou em R$ 103 mil. Subiu mesmo com o empréstimo, visto que ele pagou as parcelas do financiamento e o saldo devedor diminuiu. Além disso, a conta do FGTS continuou crescendo.
2018
Depois de se casar, Marcelo entendeu que precisava formar uma reserva de emergência para ter uma segurança financeira maior. Dividindo as despesas domésticas com a mulher, ele conseguiu poupar. Aproveitou para quitar o empréstimo e ainda conseguiu guardar mais um pouco. Veja a situação financeira do Marcelo ao fim de 2018.
Ativos:
- imóvel: R$ 300 mil;
- FGTS: R$ 18 mil;
- aplicação financeira: R$ 11 mil.
Passivos:
- saldo devedor do financiamento: R$ 188 mil.
No final de 2018, o patrimônio líquido do Marcelo chegou a R$ 141 mil.
2019
Marcelo continuou economizando e resolveu usar o FGTS, que já somava R$ 24 mil, para amortizar o financiamento do apartamento. No entanto, houve um imprevisto: ele precisou ajudar a mãe a pagar uma cirurgia e teve que usar todas as suas reservas para isso. Vamos ver como ficaram as contas.
Ativos:
- imóvel: R$ 300 mil.
Passivos:
- saldo devedor do financiamento: R$ 152 mil.
Ao fim de 2019, Marcelo tinha um patrimônio líquido de R$ 148 mil.
Assim, apesar dos percalços, Marcelo saiu de um PL de R$ 8,5 mil, em 2010, e chegou ao fim de 2019 com um patrimônio líquido pessoal de R$ 148 mil.
Com essas informações, ele pode avaliar se sua trajetória está ou não dentro dos objetivos que tinha para si. É claro que esse foi um cálculo simplificado, para fins didáticos, e deixou de fora outros itens que podem existir.
Como declarar o patrimônio líquido no Imposto de Renda?
Como dissemos, acompanhar o patrimônio líquido pessoal também ajuda na hora de preencher a declaração do Imposto de Renda. No programa da Receita Federal, todos os bens móveis, imóveis e direitos que a pessoa tiver devem ser declarados na ficha “Bens e Direitos”. Isso vale mesmo que o bem seja financiado.
Nesse caso, deve-se declarar apenas o valor que foi pago até o momento e atualizar esse número a cada ano. Agora, para empréstimos pessoais, a situação é diferente. Esses valores devem ser declarados na ficha “Dívidas e Ônus Reais” do programa. Vale destacar que outros ganhos, como salário e remuneração por serviços prestados, devem ir para a ficha “Rendimentos Tributáveis“.
Agora você já sabe o que é patrimônio líquido, como calculá-lo e o quanto essa informação é importante. Então que tal se aprofundar mais no assunto e conhecer também a nossa biblioteca financeira?
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