(Bloomberg) — Companhias aéreas suspendem voos vindos da China. Escolas da Europa recusam estudantes de intercâmbio. Restaurantes na Coreia do Sul fecham as portas a clientes chineses.
Com a propagação do vírus para outros países, governos, empresas e instituições educacionais são desafiadas a encontrar a resposta certa. Proteger a saúde pública é uma prioridade. Como fazer isso sem estigmatizar toda a população do país onde o surto começou – e onde quase 20% de todos humanos residem – é o desafio.
Com o número de mortes causadas pelo coronavírus em 170 e os casos acima de 7.700, os receios aumentam. Muitas multinacionais com operações na China pediram aos trabalhadores que fiquem em casa. Companhias aéreas estão cancelando voos para o país. Vários países começaram a remover cidadãos da zona mais atingida nos arredores da cidade de Wuhan.
Embora a grande maioria dos casos envolva habitantes da metrópole central da China ou de cidades próximas ou que estiveram em contato com infectados, pessoas de aparência asiática em todo o mundo dizem que têm notado uma maior cautela desde que a doença começou a se espalhar.
Na Coreia do Sul, cartazes nas vitrines de alguns restaurantes dizem: “proibida a entrada de chineses”. Um cassino coreano que recebe clientes estrangeiros disse que não está mais aceitando grupos de turistas chineses. Mais de 500 mil pessoas assinaram uma petição, submetida ao governo sul-coreano, pedindo a proibição de visitantes da China, um país com 1,4 bilhão de habitantes.
Uma chinesa que visitou a cidade japonesa de Ito – em uma península ao sul de Tóquio – disse que um garçom em um restaurante gritava “Chinesa! Fora!”, segundo uma gravação compartilhada em uma conta do Weibo.
A gravação, que incluiu um telefonema posterior para o restaurante sem nome, foi compartilhada por um repórter da Phoenix TV, de Hong Kong.
Uma mulher que atendeu ao telefone no restaurante disse que estava recusando clientes da China e do Sudeste Asiático porque o proprietário estava preocupado com o coronavírus, de acordo a gravação. “Se nosso dono contrai o vírus e morre, de quem é a responsabilidade então?”, disse.
Preocupações com saúde à parte, a reação da Coreia do Sul e do Japão ao vírus reflete um conflito antigo com a China, bem como o ressentimento por sua crescente influência na região. Isso apesar de o fluxo de visitantes da China ter impulsionado economias vizinhas, incluindo a Coreia do Sul, onde o número de turistas subiu 25%, para mais de 5,5 milhões em novembro em relação ao ano anterior.
Sinais de insensibilidade não se limitam à Ásia. O jornal regional francês Courrier Picard provocou indignação com a manchete “Alerta Amarelo” em uma matéria de primeira página sobre o coronavírus. O jornal pediu desculpas aos leitores que foram ao Twitter para condenar a alusão ao “Perigo Amarelo”, um termo xenófobo que se refere aos povos do leste da Ásia que data do século XIX.
Na Dinamarca, a Embaixada da China pediu ao jornal Jyllands-Posten do país que pedisse desculpas por uma charge editorial que retratava a bandeira da China com símbolos do vírus em vez de estrelas sobre fundo vermelho.
“Sentimos raiva e nos sentimos tristes porque é uma espécie de insulto ao nosso povo e à nossa bandeira”, disse John Liu, secretário-geral da Câmara de Comércio Chinesa da Dinamarca, em entrevista na TV.
O jornal não quis pedir desculpas, citando a tradição dinamarquesa de liberdade de expressão.
Na Austrália, a equipe de futebol feminina chinesa e equipe de apoio foram colocadas em quarentena em um hotel de Brisbane depois de chegar ao país para um torneio olímpico de qualificação, de acordo com o ministro da Saúde de Queensland.
Pessoas de ascendência chinesa, mas que não nasceram na China, também sofreram reações. No Sri Lanka, um grupo de turistas de Cingapura – um país do Sudeste Asiático onde a maioria das pessoas é descendente de chineses – foi impedido de escalar a atração Ella Rock por causa da aparência, de acordo com Tucker Chang, de 66 anos, um dos turistas. Ninguém no grupo havia viajado recentemente à China.
Intercâmbio de estudantes
Na França, o Ministério de Relações Exteriores aconselhou escolas e universidades a adiarem o intercâmbio de estudantes com a China. Pelo menos uma escola de ensino médio em Paris retirou convites a um grupo de estudantes que chegaria esta semana.
No Canadá, pais em comunidades ao norte de Toronto iniciaram um abaixo-assinado instando as escolas a obrigarem estudantes que retornaram recentemente da China a ficarem em casa por pelo menos 17 dias para evitar qualquer chance de propagar a doença. A petição recebeu quase 10 mil assinaturas na região, que possui grandes comunidades étnicas chinesas e asiáticas.
Em resposta, a presidente do conselho escolar de York, Juanita Nathan, e a diretora de educação, Louise Sirisko, escreveram para os pais, informando-os que tais pedidos correm o risco de “demonstrar preconceito e racismo”, mesmo quando feitos em nome da segurança.
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