SÃO PAULO – A última edição da pesquisa Global Entreneurship Monitor (GEM) mostra que atualmente há mais mulheres do que homens começando um negócio no Brasil. É um dado importante em um país onde são raras as grandes empresas comandadas por mulheres. Ainda assim, as dificuldades enfrentadas por aquelas que escolhem empreender são muitas.
Baseado em entrevistas realizadas para o podcast Do Zero ao Topo e em estudos e exemplos internacionais, o InfoMoney listou as atitudes tomadas por mulheres que lutaram para construir suas empresas e carreiras.
1 – Mostrando seus diferenciais ao invés de sucumbir aos padrões impostos
Para poder crescer profissionalmente — principalmente em segmentos dominados por homens — muitas mulheres sentem a necessidade de “jogar o jogo”. Se a cultura de um ambiente é a austeridade e agressividade, mesmo não se identificando, muitas tentam se adequar aos padrões. O resultado é a frustração com a carreira.
Algumas empreendedoras e executivas, no entanto, conseguiram se destacar ao criar e mostrar os seus diferenciais — mesmo quando eles desafiavam os padrões impostos pelo mercado. Sofia Esteves, fundadora da consultoria de recrutamento e seleção Cia de Talentos, conta que, muitos dos preconceitos que enfrentou por ser mulher e jovem no início da empresa foram quebrados com sua personalidade extrovertida e alegre.
“A primeira reação quando me viam era sempre pensar ou perguntar: ‘cadê o homem?’ Eu abria um sorriso e mostrava meu conhecimento sobre o assunto”, contou Sofia durante o podcast Do Zero ao Topo.
Mesmo depois de anos batalhando em sua empresa, Sofia pensou em fechá-la. O motivo: seus valores pareciam muito diferentes daqueles compartilhados pelos principais executivos do setor de recrutamento na época.
“Nessa época, um dos meus amigos me disse: ‘Sofia, se os idealistas abandonarem o barco, quem vai fazer a transformação?’ Ali percebi que eu precisaria ajudar a transformar esse setor por meio dos meus valores.”
2 – Pedindo ajuda quando necessário
A advogada Manuella Curti tinha apenas 26 anos quando se viu obrigada a assumir a empresa fundada por seu pai, em 2010. Isso porque, em um período de apenas seis meses, seu pai e seu irmão — que vinha sendo preparado para liderar a sucessão dos negócios — faleceram.
“A primeira coisa que eu fiz foi admitir que eu não sabia nada. Eu disse: ‘não tenho experiencia, eu não sei gerenciar a empresa. A única coisa que eu sei é que não vou deixar isso aqui morrer’”, contou a empresária durante o podcast.
Para fazer os negócios andarem ela decidiu procurar ajuda. Começou a participar de cursos e eventos de empreendedorismo, pedindo conselho e ouvindo grandes empresários.
Em um dos cursos que fez ela conheceu Wilson Poit, um empreendedor que, na época, comandava uma grande empresa de energia. “Eu cheguei e pedi ajuda. Ele foi a primeira pessoa que resolveu me ajudar. Foi uma espécie de mentor pra mim”, contou.
3 – Acreditando em seu potencial para se desenvolver
Uma pesquisa interna da empresa de tecnologia americana Hewlett-Packard (HP) revelou que os homens geralmente se aplicam para uma vaga de trabalho quando seu currículo alcança pelo menos 60% das qualificações requisitadas. Já as mulheres tendem a aplicar apenas em casos em que seus currículos preenchem 100% dos requisitos.
A pesquisa é uma dentre muitas que revela a insegurança feminina no mercado de trabalho — seja para se candidatar a uma vaga ou desenvolver seu próprio negócio.
A executiva Sheryl Sandberg, diretora operacional do Facebook, explica em seu livro “Faça Acontecer” que os obstáculos internos raramente são discutidos e costumam ser minimizados. “Esses obstáculos internos merecem atenção muito maior, em parte porque estão sob nosso próprio controle”, escreve.
Sandberg corrobora sua visão com exemplos de mulheres que perderam — ou quase — grandes oportunidades por duvidarem de si mesmas. Um dos casos descritos é o da Virginia Rometty, primeira diretora executiva da IBM. Quando lhe ofereceram uma “grande emprego” no início da carreira, a executiva ficou preocupada se teria a experiência adequada e disse ao entrevistador que precisava pensar sobre a proposta.
À noite, conversando com o seu marido, ele disse: “Você acha que um homem algum dia responderia ao recrutador dessa maneira?”.
“O que isso me ensinou foi que você tem de ser muito confiante”, disse Rometty. “Mesmo que por dentro seja muito autocrítica sobre o que sabe ou não sabe. E isso, para mim, leva a aceitar riscos”, completou.
O conselho de Sandberg para que as mulheres é que sejam mais ambiciosas. “O que você faria se não estivesse com medo?”, questiona no livro.
4 -Não se importando com rótulos
Em um experimento famoso, professores da Columbia Business School pegaram a história real de uma investidora de risco chamada Heidi Roizen. Eles então espalharam essa trajetória entre dois diferentes grupos de alunos (homens e mulheres). Para o primeiro grupo, mantiveram o nome de Heidi. No segundo caso, substituíram o personagem na história por “Howard”.
Depois, os professores deram aos estudantes um questionário no qual eles respondiam suas impressões sobre Heidi ou Howard. Ambos foram classificados como competentes. Mas, enquanto Howard foi avaliado como um colega agradável, Heidi foi classificada como egoísta e não era “o tipo de pessoa que você contrataria ou para quem gostaria de trabalhar”. A única diferença nos dois casos era o sexo.
A experiência é reforçada por uma série de pesquisas que mostram que o sucesso e simpatia são relacionados de maneira positiva para os homens e negativa para as mulheres. Para chegar ao topo da carreira, muitas empreendedoras e executivas aprenderam a não ligar para os esteriótipos ou críticas infundadas que encontravam ao longo do caminho.
“Eu comecei jovem, mulher e herdeira. Tenho várias passagens emblemáticas de muitas pessoas que me julgaram por isso. Esses rótulos nunca me serviram”, conta Renata Moraes Vichi, hoje presidente do Grupo CRM, dono das marcas Kopenhagen e Chocolates Brasil Cacau.
5 – Não se culpando pela aparente “falta de equilíbrio” entre vida pessoal e profissional
O sentimento de culpa por achar que está deixando algumas das áreas de sua vida de lado está sempre presente nas mulheres.
A paulista Fernanda Mello passou por diversas perrengues ao tentar equilibrar a vida familiar com a carreira. Quando trabalhava na hostil mesa de operações de um grande banco, negociando ativos no mercado financeiro, ela chegou a ter que correr para casa na hora do almoço para poder amamentar o filho.
Em uma segunda fase, já em outro emprego e com os dois filhos pequenos, teve que explicar ao chefe que ficar até às 22h no escritório não era uma opção para ela e convencê-lo de que, mesmo saindo “mais cedo”, entregaria todo o seu trabalho.
“O sentimento de culpa sempre estava lá. É um dilema que toda mãe enfrenta”, contou durante a gravação do podcast Do Zero ao Topo, em episódio que vai ao ar no dia 11 de março. Depois de passar oito anos trabalhando em gestoras, Fernanda montou uma empresa com duas outras sócias, a securitizadora Vert.
O tão sonhado equilíbrio foi acontecendo aos poucos. Ela conta que a saída encontrada para conciliar tudo foi aprender a compartilhar cada vez mais com os filhos os seus sonhos e suas conquistas profissionais.
“Hoje, que já estão grandes, eles me apoiam muito. Dizem que sou um exemplo. O fato de eu trabalhar fora não nos impediu de ter uma relação próxima”, afirma.
As histórias revelam que não há uma maneira ideal de balancear as diferentes áreas da vida. Cada mulher, precisa encontrar o seu equilíbrio.
Na vida de Renata Moraes Vichi, a palavra-chave sempre foi “disciplina”. “Além da carreira profissional, sou mãe e atleta”, afirma a executiva que preside o grupo dono da Kopenhagen.
Renata acorda às 4h40 da manhã todos os dias para se exercitar e poder chegar ao escritória antes das 8h. O almoço, é dedicado todos os dias ao filho, atualmente com 13 anos. “Eu aprendi a priorizar o que importa. Foco no que me interessa e não perco tempo”, diz.
Para mais histórias sobre empreendedorismo, ouça o podcast Do Zero ao Topo e nos acompanhe no Instagram: @dozeroaotopo_oficial
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