Durante o processo de avaliação de crédito de uma empresa, o uso de alguns indicadores simples para avaliar se sua empresa tem boas chances de honrar suas obrigações é senso comum entre os analistas. Mas como saber se a sua empresa está adequadamente endividada?
É importante que o empresário médio os conheça. Desmistificá-los pode ajudar a entender de que modo sua empresa pode encontrar um endividamento mais saudável.
Pretendo também mostrar um ou outro ponto que considero generalizações nos processos de análise. Cabe a ressalva de sempre sobre as generalizações: quase sempre são opções que simplificam as análises, mas que naturalmente deixam particularidades de um outro negócio de lado; e o diabo costuma estar nos detalhes.
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Indicadores de endividamento
Os mais comuns indicadores de endividamento encontrados na literatura são os indicadores de endividamento geral ou EG (Dívida total/Passivo total) e Composição do Endividamento ou CE (Dívida de Curto Prazo/Dívida Total).
Analistas de crédito pouco os observam para avaliar sua capacidade de obtenção de empréstimos. Não quero dizer que são descartáveis, mas eu diria que eles apenas ajudam a formar um pano de fundo de sua empresa.
Existem muitos outros indicadores que podem auxiliá-lo a obter uma visão analítica mais ampla, mas não vou – em nome da simplificação – exauri-los nesse texto. A rigor, podemos ir mais diretamente ao ponto.
Indicadores financeiros menos conectados à sua capacidade de geração de caixa falam muito pouco a um analista externo e a você mesmo sobre sua capacidade de enfrentar passivos onerosos no curto ou longo prazo.
Para avaliar a capacidade de pagamento de uma empresa, os olhos costumam se voltar a um grupo mais restrito de indicadores. São indicadores amplamente utilizados no mercado.
Portanto, sua empresa será objeto de comparação constante com peers (empresas de mesmo setor) e com alguns padrões pré-estabelecidos e aceitáveis para esses indicadores.
Desta maneira, eles funcionam como grandes funis no processo de análise. Avaliá-los recorrentemente e exibi-los em seus relatórios periódicos pode sinalizar boa prática gerencial.
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Vamos falar de dois indicadores bem básicos e amplamente utilizados:
- Índice de Cobertura de Juros ou do Serviço da Dívida (ICSD): EBIT (ou EBITDA) / Despesas Financeiras (ou Resultado Financeiro)
- Dívida Líquida/EBITDA (comumente chamado de índice de endividamento)
O índice de cobertura de juros pode ser facilmente calculado extraindo o EBIT (acrônimo para a expressão em inglês earnings before interests and taxes) diretamente da DRE.
O EBIT equivale ao lucro antes do resultado financeiro. Caso queira utilizar o EBITDA (acrônimo para a expressão earnings before interests, taxes, depreciation and amortization), calcule o LAJIDA em bom português, logo some ao EBIT a depreciação e amortização. Na sequência, divida esse número por suas despesas financeiras com juros.
O objetivo deste indicador é medir sua capacidade de enfrentar a dívida, já que é uma boa aproximação para isso. É, contudo uma simplificação.
Tecnicamente, o mais correto seria que o numerador contivesse o fluxo de caixa operacional, mas isso fica para uma outra história.
Na prática, o indicador funcionaria para empresas que não tivessem dificuldades de rolar seu passivo infinitamente. Sua intenção seria avaliar estritamente sua capacidade de pagar os encargos da dívida.
Na realidade, sabemos que especialmente em empresas de médio porte no Brasil isso não é observado.
Assim, no mundo real, ele funciona como um primeiro requisito. ICSDs menores que 1 indicam a incapacidade de a empresa pagar os juros de suas dívidas durante o exercício analisado. Isso é razoavelmente grave. E normalmente acende um alerta vermelho em suas avaliações de crédito.
Como analisar os indicadores na prática
Como gestor financeiro, caberá a você tomar algumas medidas agudas relacionadas ao custo e ao perfil de seu endividamento.
Dificilmente diante deste cenário as medidas operacionais de curto prazo serão suficientes para sanar o problema apresentado. Fato é que você necessitará reduzir o denominador da razão acima. Não tem jeito.
O indicador de Dívida Liquida/EBITDA é, de fato, o maior balizador para concessões de crédito e, portanto, para aferição de sua capacidade de repagamento de dívidas.
A sua lógica é bem simples: gera um múltiplo que aponta o número de exercícios necessários para que você amortize o principal de sua dívida, descontado o caixa disponível.
Existem muitos benchmarks disponíveis, dado que os números das companhias abertas são amplamente divulgados e conhecidos.
Um múltiplo incompatível com o prazo médio de suas dívidas dá sinal claro de que elas precisarão ser reperfiladas. Com isso, sua geração de caixa é incompatível com seu atual nível de endividamento.
Evidentemente, a trajetória futura de seu fluxo de caixa pode dar demonstrações distintas – para o bem e para o mal. Tudo depende da projeção de seu fluxo de caixa.
Por si só, este indicador é uma simplificação. O EBITDA é uma aproximação da geração de caixa. E o uso da dívida líquida é um paradigma que considero equivocado em muitas situações. Uma análise um pouco mais detalhada deveria reintroduzir o caixa no indicador.
Aos analistas menos experimentados, sugiro avaliar a liquidez das empresas avaliadas, apenas como um primeiro filtro. Empresas com liquidez corrente muito justa (ou seja, muito próxima de 1) dão um indicador de que o caixa apresentado é parte da operação, e, assim, não estaria disponível para amortização efetiva da dívida.
Outro aspecto a se analisar é o giro do caixa, mas deixo essa análise para outro texto. Não quero me alongar muito.
No dia-a-dia do processo de análise e no seu acompanhamento gerencial do endividamento, dar um primeiro passo é fundamental. Comece acompanhando esses indicadores básicos. Já será um bom ponto de partida.
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