(Bloomberg) — Acadêmicos da área de saúde, plataformas de monitoramento de número de mortes e até filmes de zumbi: essas não são fontes normais de informação para investidores que tentam avaliar riscos nos mercados. Mas estes não são tempos normais, pois o surto de coronavírus leva a uma busca não convencional de pistas sobre o que esperar de uma epidemia que se espalha rapidamente.
A maioria dos gestores de fundos simplesmente não tem modelos para rastrear o que ameaça se tornar uma pandemia global, levando investidores a recorrer a universidades, órgãos mundiais de saúde e até obras de ficção, ao mesmo tempo em que buscam segurança investindo em portos seguros como títulos de dívida e ouro.
A miríade de possíveis resultados – de uma pandemia global que matará milhões como a gripe espanhola de 1918 a uma recuperação em forma de V se a doença desaparecer – faz com que seguir fontes de dados tradicionais seja muito lento e limitado, deixando muitos estrategistas presos no caminho errado. Em vez disso, fundos recorrem a especialistas, semelhante à maneira como investidores consultaram pesquisadores e consultores políticos antes da tortuosa série de votações do Brexit no Reino Unido.
Painel da morte
Agora, investidores tentam gerenciar riscos e descobrir quanto da queda das ações e rali do títulos é razoável, dada a escalada de casos do vírus. Essa perspectiva já levou o rendimento dos títulos de longo prazo do Tesouro dos EUA para uma mínima histórica, o franco suíço à cotação mais alta desde 2015 em relação ao euro e o preço do ouro para o maior nível em sete anos.
A Unigestion monitora a propagação do vírus com dados do Centro de Ciência e Engenharia de Sistemas da Universidade John Hopkins, que desenvolveu um painel de controle interativo que registra os casos por país, total de mortes e taxa de recuperação.
“Acompanhamos de perto a propagação do vírus fora da China, especialmente em países com alta densidade populacional e sistemas de saúde menos desenvolvidos”, afirmou Salman Baig, gestor de recursos da Unigestion. O modelo “Growth Nowcaster” da empresa de investimento não vê grande impacto no crescimento, pelo menos por enquanto.
E eis o X da questão. As previsões de estrategistas de mercado para este ano foram destruídas pelo vírus, mesmo antes de todos os efeitos serem refletidos nos dados econômicos. Na semana passada, o Société Générale enviou nota aos clientes para revisar as projeções para o euro, dizendo que as visões do banco “não tiveram um bom começo de ano”.
As estimativas para o impacto econômico do vírus variam muito. A Oxford Economics calcula que uma crise internacional da saúde pode ser suficiente para eliminar mais de US$ 1 trilhão do PIB global, enquanto o Fundo Monetário Internacional acredita que o vírus diminuirá em apenas 0,1% sua previsão de crescimento global de 3,3% para 2020.
Reação sem precedentes
A escala das tentativas dos governos de conter o vírus, como com bloqueios de cidades e restrições de viagens, é uma “reação extrema” que parece sem precedentes, dificultando a rapidez com que a economia global poderia se recuperar, disse Richard Lacaille, diretor de investimentos da State Street Global Advisors, em entrevista à Bloomberg Television.
Para o gestor de fundos da M&G, Wolfgang Bauer, que é PhD em química pela Universidade de Cambridge, vale a pena ser cauteloso em relação aos modelos adotados até agora, dada a natureza dispersa das informações disponíveis.
“A situação está evoluindo tão rápido que qualquer tentativa de avaliação precisa das implicações mais amplas é quase impossível, pois as margens de erro são muito altas”, disse.
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