SÃO PAULO – Além do lucro líquido histórico de R$ 40,1 bilhões em 2019, valor nominal recorde para um ano entre as empresas de capital aberto, a Petrobras (PETR3;PETR4) tem outros motivos para comemorar o resultado de 2019, divulgado na noite da última quarta-feira (20).
“A Petrobras está entregando todas as metas que se propôs a fazer: venda de ativos, crescimento da produção e custo mais baixo de capital. Nós acreditamos que esta tendência continuará nos próximos dois anos”, avalia a equipe de análise do Bradesco BBI, enquanto o Credit Suisse apontou que os números da companhia foram melhores do que à primeira vista poderia parecer.
O forte Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado, de R$ 129,249 bilhões em 2019, um aumento de 12,54% sobre 2018, e de R$ 37,5 bilhões no quarto trimestre, com avanço de 23% na comparação com o mesmo período de 2018, foi considerado bastante positivo pelo analista Vicente Falanga, do Bradesco BBI.
O crescimento da produção, conforme era esperado, foi o fator-chave para o balanço positivo, aponta o banco. Em geral, os resultados de exploração e produção foram considerados excelentes, com o custo médio de produção de petróleo atingindo US$ 8,22 por barril, bem menor do que a projeção de US$ 9,80 por barril do banco e representando uma queda de 20% na base de comparação anual.
Isso significa maior eficiência na exploração. Hoje, mais de 60% da produção vêm do pré-sal, cujo custo de exploração e produção no pré-sal, considerando apenas os custos operacionais, foi para US$ 5 o barril.
No seu release de resultados, a empresa lembrou ainda que, após “anos de estagnação” na produção, a companhia registrou a marca de 3 milhões de petróleo e gás por dia, assim como comemorou a redução dos custos de exploração.
A estatal também se beneficiou das novas especificações estabelecidas pela Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) para o combustível marítimo (bunker). Pelas novas normas, o bunker deve ter teor máximo de 0,5% de enxofre de forma a reduzir a poluição – e a Petrobras já atende aos novos parâmetros. O petróleo do pré-sal, com baixo teor de enxofre, tem sido vendido em alguns momentos com prêmio sobre a cotação do brent, usado como referência mundial de preços, destacou a companhia.
Outro ponto a ser comemorado é a forte geração de FCFE (fluxo de caixa aos acionistas), de R$ 8,1 bilhões no trimestre ao excluir os efeitos do pagamento de R$ 63,14 bilhões no leilão da cessão onerosa, que ocorreu no início de novembro do ano passado. Na ocasião, a companhia arrematou os blocos de Búzios e Itapu.
Contudo apesar do número sólido, este valor foi inferior ao do trimestre anterior (R$ 14,46 bilhões) e do ano anterior (R$ 11,32 bilhões), uma vez que o investimento em bens de capital (capex) foi superior ao trimestre anterior e o capital de giro pesou no fluxo de caixa operacional.
“Isso ocorreu principalmente devido a um aumento nas linhas de estoques e de contas a receber por conta de uma alta da produção que não foi totalmente convertida em volumes de vendas no trimestre, efeito que deve ser revertido no futuro”, avaliam.
Por outro lado, a dívida líquida totalizou R$ 317,867 bilhões no fim do ano passado, uma alta de 1,2% em relação ao fim do terceiro trimestre. Em dólar, a alta foi de 4,6%, para US$ 78,861 bilhões. Esse aumento ocorreu principalmente por conta do pagamento de bônus do leilão do excedente da cessão onerosa. Já a venda de ativos reduziu a dívida bruta da companhia em 3,1%, para US$ 87,1 bilhões.
“Avanços foram realizados, mas estamos ainda muito aquém do desejado. A Petrobras continua a ser uma das companhias de petróleo mais endividadas do mundo, com dívida bruta de US$ 87,1 bilhões, alavancagem acima do recomendável para uma empresa de petróleo e custos elevados”, destacou Roberto Castello Branco, presidente da empresa, no release de resultados.
Como um ponto negativo, os analistas do Morgan Stanley apontam as maiores despesas na unidade de gás e energia, principalmente por conta da hibernação da planta de fertilizantes Araucária Nitrogenados (Ansa), no Paraná, causando um declínio de 80% do Ebitda do segmento, ante a expectativa de queda de 66% dos analistas do banco. Porém, por ser apenas uma pequena fatia dentro da empresa, os analistas do Morgan avaliam que este não deve ser um grande ponto de preocupação.
Desinvestimentos e dividendos no radar
Contudo, vale ressaltar, a Ansa está no centro da greve dos petroleiros que acomete a companhia desde o dia 1º de fevereiro. A paralisação foi motivada, principalmente, pela demissão de 396 empregados diretos e 600 indiretos da Ansa. No dia 14 de janeiro, a Petrobras anunciou o fechamento da fábrica de fertilizantes e o desligamento dos funcionários, que começou a acontecer após um mês do comunicado.
Já no início deste mês, a FUP convocou os petroleiros a cruzar os braços em protesto às demissões e conseguiu a adesão de cerca de 21 mil trabalhadores da Petrobras em 13 Estados.
Apesar dos protestos, a Petrobras segue com o seu programa de desinvestimentos, sendo um dos focos a área de refino. Em teleconferência, a companhia afirmou que espera fechar a venda de 8 de suas 13 refinarias até o fim de 2020 e que há propostas para todas as unidades. A expectativa é fechar os acordos até o fim do ano e concluir a transferência de ativos até 2021.
Castello Branco voltou a defender a redução da participação neste mercado: “a falta de competição é ruim para a Petrobras, porque se não tem competidores, [a empresa] acaba virando um fat cat [gato gordo]. Por que vou cortar custos, produzir inovações? Não tem ninguém aí para desafiar”.
Enquanto isso, os desinvestimentos já feitos, que totalizaram US$ 16,3 bilhões em 2019 (ou R$ 64 bilhões, ao dólar médio de vendas usado pela companhia em seu balanço) ajudaram a empresa a investir na compra de áreas exploratórias do pré-sal na compra dos novos blocos em leilões do governo, conforme apontou o CEO.
Além disso, com o lucro recorde de R$ 40,1 bilhões em 2019, a companhia pagou R$ 10,6 bilhões em dividendos e juros sobre o capital próprio referente ao exercício de 2019 (ou US$ 2,5 bilhões, segundo destacado pela empresa) – e a expectativa é de que esse montante aumente.
Conforme apontou Andrea Almeida, diretora-executiva de Finanças e Relacionamento com Investidores, a companhia deverá distribuir US$ 3 bilhões aos acionistas em 2020. Isso corresponde a um valor de R$ 0,92 por ação preferencial e R$ 0,73 por ativos ordinários.
“Num futuro próximo, dado que a Petrobras deve continuar a anunciar vendas importantes de ativos e contabilizar ganhos de capital, acreditamos que os dividendos dos ativos ON ficarão cada vez mais próximos dos dividendos das preferenciais. No longo prazo, os dividendos devem se igualar depois que a dívida bruta atingir níveis de US$ 60 bilhões”, avalia o Bradesco BBI.
No curto prazo, contudo, para atingir os seus objetivos, a companhia enfrenta alguns obstáculos. Além da greve dos petroleiros, está o coronavírus. Conforme apontou Anelise Lara, diretora-executiva de Refino e Gás Natural, a companhia está sentindo os impactos do coronavírus nos preços de venda do seu petróleo no primeiro trimestre do ano, em meio à redução das cotações globais. Ela ainda aponta para um período de possível diminuição das exportações diante de paradas programadas de produção.
A estatal, no entanto, não sentiu efeitos na demanda por seu produto, já que “todas as cargas que estavam previstas estão embarcando normalmente”.
Atualmente, a China é o destino de cerca de 65% do petróleo vendido pela Petrobras. Porém, Analise ponderou ao destacar que os mercados europeu e americano também estão recebendo bem o petróleo da companhia, pela qualidade do produto.
Com relação à produção, apesar dos efeitos das paradas de plataformas programadas já terem começado a serem sentidos neste mês, a gestão da companhia mantém a meta de extrair 2,7 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d), podendo variar 2,5% para cima ou para baixo.
Em meio a esse cenário de conquistas e obstáculos para a companhia, os analistas têm mostrado confiança com a tese de investimentos da estatal. O Credit Suisse aponta cinco pontos importantes para a empresa em 2019 (crescimento da produção, queda de US$ 24,5 bilhões da dívida líquida, desinvestimento de US$ 16,3 bilhões, alocação de capital interessante arrematando o campo de Búzios e em questões relacionadas a investimentos ambientais, sociais e de governança, ou ESG).
Olhando para frente, o banco suíço espera que o possível desinvestimento de refino pode ser um importante catalisador para o papel, assim como um corte de 15% das despesas corporativas ao longo de 2020.
Já o Morgan Stanley aponta que a sua tese atual prevê “anos dourados” para a Petrobras, com aumento do fluxo de caixa em meio à alta da produção e capex mais baixo. “Isso deve permitir à companhia implementar uma nova política de dividendos, com um dividend yield (dividendo estimado dividido pelo preço da ação) potencial de 11% a 12% em 2021-2022, uma vez que as metas de desalavancagem sejam cumpridas”, avaliam os analistas.
Com um ceticismo menor sobre o crescimento e os desinvestimentos começando a se materializar, a expectativa é de que a diferença dos dividendos pagos na comparação com as grandes também diminua, o que tem potencial de atrair o investidor estrangeiro para as ações da companhia (veja mais sobre o assunto clicando aqui). No ano, contudo, os ativos ainda não empolgaram: tanto os ativos PN quanto os ON próximos da estabilidade no acumulado do ano. Na sessão pós-balanço, especificamente, os papéis caem cerca de 2% em meio ao ambiente de maior aversão ao risco do mercado e após a alta forte das últimas duas sessões. Assim, os próximos passos para os desinvestimentos e os anúncios de dividendos serão essenciais para definir os próximos passos da companhia na bolsa.
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