SÃO PAULO – O pânico criado no mercado por conta do aumento de casos do novo coronavírus pelo mundo levou a um grande sell-off no mercado brasileiro, pesando principalmente para empresas com maior exposição ao exterior, como Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3), duas gigantes produtoras e exportadoras de commodities, que viram suas ações caírem mais de 9% nesta quarta-feira (26).
Conforme destaca Betina Roxo, analista da XP Investimentos, empresas muito ligadas à economia global costumam ser as mais impactadas. “É o caso dos frigoríficos, das empresas de commodities, como Suzano (SUZB3) e Vale, além das empresas aéreas e de turismo”, disse ela durante uma live no Youtube. Ações de JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) fecharam em queda de 9,51%, enquanto BRF (BRFS3) teve baixa menor, mas ainda expressiva, de 6,29%. Fora do índice, Minerva (BEEF3) teve queda de 7,52%. Assim, caso os impactos do surto se prolonguem no médio prazo, a expectativa é de que essas ações sigam pressionadas.
Por outro lado, ações de empresas reguladas, como dos setores de energia elétrica e saneamento, podem ser boas oportunidades. O analista Gabriel Fonseca, da XP Investimentos, avalia que nesses dois setores há papéis mais defensivos, menos expostos às notícias de conjuntura.
“São segmentos em que a receita é regulada e costuma variar de ano a ano de acordo com investimentos e inflação”, avalia. Como essas empresas oferecem serviços de utilidade pública muito regulados pelo governo, acabam tendo faturamentos que não oscilam tanto.
Empresas de transmissão de energia, por exemplo, têm praticamente toda a sua receita anual contratada previamente, tornando esses negócios altamente confiáveis e previsíveis. Betina também destaca que estas companhias, além de serem reguladas e não serem muito impactadas pelo cenário econômico, costumam pagar bons dividendos, com as ações sendo então boas opções de proteção na carteira.
Além disso, saneamento básico e eletricidade são imprescindíveis para qualquer ser humano no século XXI, de modo que as demandas por esses serviços são quase inelásticas. Ou seja, isso significa que aumentos de preço não afetam tanto o consumo.
Gabriel Fonseca tem, ao todo, três ações preferidas nos dois setores. Em saneamento, a preferida é Sanepar (SAPR11), que tem uma grande vantagem em relação à Sabesp (SBSP3) no setor, que é não ser exposta ao dólar. “A Sabesp tem muita dívida em dólar. Assim, apesar do risco operacional ser baixo, o risco financeiro acaba sendo negativo”, explica.
Já com relação às elétricas, o analista gosta principalmente dos cases de EDP Energias do Brasil (ENBR3) e Copel (CPLE6). Ambas negociam com um desconto injustificado ante seus pares na opinião de Fonseca, uma vez que a EDP tem maiores retornos com a construção de seus projetos de transmissão. “Exemplos disso são suas linhas no Espirito Santo e Maranhão, entregues de 12 a 20 meses antes do prazo”, comenta.
Já Copel sofreu muito com ineficiências do passado, que foram corrigidas, mas não totalmente precificadas. “Há iniciativas de redução de custos, que permitirão que a distribuidora do grupo convirja para as referencias das tarifas de energia, assim como”, afirma.
Nesta sessão, os ativos SAPR11 tiveram baixa de 4,14%, enquanto Copel teve queda de 5,24% e Energias do Brasil viu seus papéis caírem 3,97%. Assim, as quedas dos ativos nesses dias de baixa generalizada do mercado podem representar uma boa oportunidade para quem procura um portfólio de investimento tendo em vista um prazo um pouco mais longo.
As ações mais prejudicadas
Por outro lado, os papéis que sofreram mais neste dia de forte queda da bolsa trouxeram um bom termômetro sobre quais empresas são as mais impactadas pelo surto do coronavírus. As ações das companhias aéreas tiveram o pior desempenho na sessão desta quarta-feira, com a Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) desabando 14,3% e 13,3%, respectivamente. A ação da CVC (CVCV3) também teve forte baixa de 11,33%, com a expectativa de os resultados das companhias possam ser deteriorados a depender do impacto para a economia brasileira.
Segundo Betina, o setor aéreo sofre como um todo. Contudo, pondera, no Brasil, ainda não se vê um impacto tão direto porque a economia ainda não está sofrendo, como aconteceu na China, por exemplo, onde houve cancelamento de voos.
“Além disso, essas empresas aéreas nacionais não têm participação no mercado lá fora, mas são empresas que 50% do custo são dolarizados”, explica a analista. “Estamos falando de empresas que cada 5% de depreciação do real, a margem cai 1 ponto percentual, o que atrapalha bastante os resultados”.
Por outro lado, ela reforça que estas incertezas, muitas vezes, acabam puxando as ações muito mais do que quando se análise os fundamentos e as variáveis por conta do coronavírus.
“É o caso da CCR (CCRO3) e Ecorodovias (ECOR3), que são empresas de infraestrutura que podem ter um impacto com a potencial queda da economia, mas de certa maneira, a gente tem um bom pipeline de investimentos no setor, o que ajuda [a dar suporte para as ações em momentos de maior incerteza]”, explica. CCR teve queda de 8,37%, enquanto Ecorodovias viu seus papéis caírem 7,31%.
Em relatório, a Levante também comentou sobre o impacto para a Vale. Segundo os analistas, a pressão de baixa vem sobretudo da perspectiva de baixa demanda por minério de ferro enquanto ainda lida com a recente divulgação de seu balanço, com o desastre de Brumadinho trazendo mais prejuízos do que o esperado.
No caso da Petrobras, este impacto inicial nas ações veio do mergulho dos preços internacionais do petróleo. Nesta quarta, os papéis ordinários da estatal caíram 9,95%, enquanto os preferenciais recuaram 10,05%.
A sessão desta quarta-feira também foi de forte baixa para bancos, com o Itaú Unibanco (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC3;BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) tendo forte baixa entre 5% e 7,5%. A queda do setor bancário, de acordo com a Levante, acontece por causa da aversão aos riscos de emergentes em cenários de incerteza global. No caso do Brasil, por serem papéis altamente negociados, servem de porta de saída fácil para estrangeiros.
Betina reforça que, de maneira geral, é importante o investidor ter uma visão de médio e longo prazo. “No curto prazo podemos ter movimentos de queda expressiva, mas quando olhamos boas empresas, com fundamentos sólidos, eles devem continuar no médio e longo prazo”.
“É preciso ter calma, olhar os fundamentos, ver se isso não impacta no estrutural da empresa, e então encontrar as oportunidades. Sem deixar de diversificar a carteira”, completa a analista.
Veja a live da XP sobre o impacto do coronavírus no mercado brasileiro:
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