SÃO PAULO — O CDS do Brasil, um indicador internacional de risco de calote, atingiu 126,9 pontos na máxima da sessão desta quinta-feira (27) — maior nível desde 21 de novembro de 2019. O movimento reflete o aumento de aversão ao risco global com a escalada do coronavírus fora da China.
No final do ano passado, o indicador havia caído para seu menor nível desde 2013, diante de expectativas otimistas com uma retomada da economia brasileira no contexto de reforma da Previdência aprovada e encaminhamento de outras reformas, necessárias para resgatar o quadro fiscal brasileiro de um colapso.
Isso fez, inclusive, com que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s elevasse a perspectiva de rating do país de estável para positiva. A S&P citou, além das medidas de consolidação fiscal que têm ajudado a reduzir o ainda alto déficit do país, o corte nos juros — com a Selic em seu menor patamar histórico, de 4,25% ao ano.
A baixa recente do CDS tem sido usada pelo governo para pressionar as agências de risco a melhorarem a nota de crédito do Brasil, que continua sendo considerada especulativa (com maior risco de calote) tanto na S&P 500 quanto na Moody’s e na Fitch Ratings.
Em entrevistas ao InfoMoney, Shelly Shetty e Samar Maziad, analistas da Fitch e da Moody’s, respectivamente, já disseram que precisam de sinais mais concretos de alívio fiscal no longo prazo antes de qualquer movimento de elevação de rating.
Mesmo com a alta de hoje, o CDS brasileiro continua afastado da média das nações com a mesma nota que o Brasil nas agências de classificação de risco (BB-), segundo dados da Bloomberg. Além disso, o índice do país está melhor do que a média das economias classificadas como BBB-, dois degraus acima do nosso e que define os bons pagadores.
No CDS, quanto mais perto de zero for a pontuação, menor é o risco de o país apresentar calote da dívida internacional. O fato de o CDS do Brasil estar há meses em um nível bem mais baixo do que estava há alguns anos reflete a percepção menor de risco por parte do mercado.
Mas as agências de classificação de risco não costumam olhar muito para o indicador porque ele pode ser bastante volátil e reflete perspectivas de curto prazo, enquanto as definições de ratings sempre são embasadas em expectativas de médio e longo prazos.
Coronavírus e agenda de reformas
Bolsas do mundo inteiro recuaram nos últimos dias diante do avanço do surto de coronavírus fora da China. O principal foco de atenção é a Europa, principalmente na Itália, onde já foram confirmados mais de 300 casos da doença.
Como é uma região de fronteira única, o contágio está crescendo rapidamente para países vizinhos, como Espanha, França e Alemanha. Nesta semana, outros países europeus confirmaram seus primeiros casos da doença, como a Noruega.
Na Coreia do Sul e no Irã, os diagnósticos de coronavírus também têm se multiplicado com bastante rapidez. Aqui no Brasil, por ora, há um caso confirmado de coronavírus e 132 sob suspeita (85 somente em São Paulo, segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde).
Analistas ouvidos pelo InfoMoney destacaram que ainda não é possível precisar quanto o surto de coronavírus vai afetar o crescimento da economia global, mas um impacto negativo é certo. Bancos internacionais começam a cortar projeções de crescimento para o Brasil em meio ao novo cenário.
Hoje foi a vez do Bank of America. O banco americano reduziu, pela segunda vez no mês, a projeção de crescimento do Brasil em 2020, que passou de 2,2% para 1,9%. Ontem, o JP Morgan cortou a estimativa para o PIB brasileiro neste ano de 1,9% para 1,8%.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) já afirmou que deve reduzir sua perspectiva de crescimento global nos próximos dias, em decorrência do agravamento do surto de coronavírus no mundo. Muitas companhias multinacionais já estão anunciando queda em receitas por causa da doença, como a Paypal, a AB Inbev e a Apple.
Internamente, também contribuiu para o aumento do CDS brasileiro na sessão de hoje ruídos políticos gerados pela coluna da jornalista Vera Magalhães, do jornal O Estado de S.Paulo, dizendo que o presidente Jair Bolsonaro compartilhou um vídeo via WhatsApp convocando as pessoas para uma manifestação contra o Congresso Nacional em 15 de março.
O receio do mercado é que isso possa de alguma forma atrasar a agenda de reformas do país, essencial para que o Brasil retome o crescimento e ganhe créditos com as agências de classificação de risco mais para frente.
Depois de ter atingido a máxima de 126,9 pontos na máxima da sessão de hoje, o CDS de cinco anos do Brasil recuou um pouco para a casa de 123 pontos por volta de 17h30 (de Brasília). Ainda assim, representava um avanço de 12,5% sobre o fechamento de ontem (109,4 pontos). Na semana, o indicador sobe 25%.
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