quarta-feira, 1 de abril de 2020

Por que o ouro pode ser seu melhor investimento, mas não para aplicar dinheiro agora

ouro

Em meio ao surto do coronavírus, os investidores estão se deparando com um momento de pânico nos mercados.

Foram seis circuit breakers em oito pregões – algo inédito na história da bolsa brasileira.

Dada a situação, os investidores estão buscando formas de se blindar na tentativa de mitigar as perdas.

Nesse cenário, o ouro aparece como uma das formas mais populares de fazer o hedge, transação que visa proteger o investidor de prejuízos.

Ouro

O metal precioso é um ativo negociado mundialmente e é tido como uma opção muito segura de diversificação.

Ele é um recurso natural finito e sua escassez não tem como ser compensada, por isso, seu valor não está sujeito a intervenções econômicas e estratégicas o que torna sua cotação é mais estável.

Assim, na prática, o investidor que aplica em ouro não busca uma valorização rápida, mas uma estabilidade do valor investido e um potencial de valorização no longo prazo.

No acumulado dos últimos 12 meses, o ouro tem alta de quase 17% – algo bastante significativo no mercado financeiro atualmente.

Precificação de catástrofe

Mas por que o investidor precisa ficar atento ao aplicar em ouro durante essa crise que o país enfrenta?

Lucas Collazo, analista de fundos e estrategista de alocação da Rico Investimentos, explica que o ouro não é uma boa opção para o investidor agora.

“O ouro foi uma ótima oportunidade, mas como toda proteção de carteira funciona como um seguro de carro. Não adianta comprar depois de bater o veículo. É isso que aconteceu com o ouro, já foi o timing. O investidor tinha que ter comprado antes da crise estourar”, afirma.

Segundo ele, considerando a situação do mercado, o valuation do ouro “precifica catástrofe” e não é uma boa hora para apostar nele.

Mesmo com o ouro, que é considerado um ótimo ativo para hedge, se o investidor não vender na hora certa pode sair no prejuízo.

“Deixa de ter o porto seguro e passa a ter uma commodity. Por isso, ao diversificar o investidor precisa tomar cuidado com os ativos que vai adquirir, ainda mais nesse momento que não sabemos o que vai acontecer”, explica Collazo.

Outro ponto muito importante neste momento é a correlação de ativos que o investidor tem na carteira.

Correlação de ativos

Nesse sentido, vale explicar relação entre ouro e o Treasury Americano, uma espécie de Tesouro Direto dos EUA. “O tesouro americano e o ouro tem geralmente uma correlação negativa um com o outro.

Quando a curva de juros futuros baixa o ouro se valoriza, e quando sobe ele deprecia – sempre de acordo com a expectativa do mercado.

Neste momento, o tesouro americano está pagando juros baixos porque a demanda foi muito alta dado o pânico no mercado e o ouro fica caro. Não é o momento de comprar”, explica.

Ainda, Collazo ressalta a crise de liquidez que estamos vivendo e o impacto na correlação de ativos nesse momento.

“Nos circuit breakers da bolsa americana o treasury e ouro apresentaram quedas, mas um efeito lógico era que esses ativos subissem. Isso prova que o mercado está irracional e contradiz o que era esperado”, diz.

“E isso impacta justamente a correlação. Algo que deveria se comportar de maneira X está na verdade se comportando de maneira y por conta de uma situação de liquidez que deixa as coisas imprevisíveis e irracionais dado a pandemia. Comprar ouro como proteção agora pode ser um risco, já que o ativo não está se comportando da maneira esperada. Além disso, é ativo difícil: não paga dividendo, não paga juros, não tem fluxo de caixa é muito complicado achar um valor justo para ele”, explica.

Índice do medo

O Vix, conhecido como índice do medo, mede as expectativas dos investidores, para os próximos 30 dias, sobre as ações que compõem o S&P, índice que concentra as empresas listadas mais relevantes dos Estados Unidos.

Nas últimas semanas, o índice teve alta valorização comprovando a incerteza dos investidores para o momento.

Ou seja, não quer dizer que não vale a pena investir em ouro, pelo contrário, o ativo já ofereceu boas oportunidades, mas o contexto global não é favorável.

Por fim, Collazo explica que o ideal neste momento o investidor que pensa no médio longo prazo e não precisa de dinheiro imediatamente deve fazer administração de caixa.

“Um ditado famoso no mercado financeiro é ‘cash is king’, quem tem caixa consegue se proteger mais no fim do dia. Pode eventualmente comprar ativo que está barato”, diz.

Mas fica o alerta do especialista para quem tem caixa também no sentido de correlação de ativos.

“Ao comprar posições para cobrir outras pode correr o risco de trocar os pés pelas mãos e perder dinheiro nas duas pontas, porque os ativos não estão se comportando de forma padrão devido ao cenário”.

Mas se o investidor não tem caixa, a recomendação é aguardar.

“É estatisticamente comprovado que se a pessoa vender as ações na baixa, no médio e longo prazo pode ter prejuízo. Tenha paciência”, diz.

Então, o que fazer?

Em resumo, para Collazo o cenário sobre o ouro pode ser analisado assim.

“O curto prazo, com o VIX em alta de 70/80% é impossível de acertar. Agora é fazer uma boa gestão de caixa, não vender bons ativos em baixa (caso os fundamentos não tenham mudado) e ter paciência. Se for alocar algum recurso, invista naquilo que é para longo prazo e que você tenha estômago para aguentar eventuais quedas e lembre que antes de melhorar pode piorar mais”, conclui.

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