SÃO PAULO – Apesar da alta nas bolsas internacionais, que levou os três principais índices dos Estados Unidos às máximas históricas, o Ibovespa caiu nesta quinta-feira (6) e o dólar fechou na sua máxima nominal histórica. Por que o mercado brasileiro não seguiu as outras bolsas?
Começando pelo dólar, José Faria Jr., diretor da Wagner Investimentos, lembra que o câmbio por aqui seguiu o desempenho do dollar index global, que se fortaleceu porque a economia americana tem se mostrado muito mais forte do que as de outros países.
Ontem, o ISM de serviços nos EUA mostrou um crescimento maior do que o esperado em janeiro, subindo de 55 pontos para 55,50 pontos. A expectativa mediana dos economistas era de um avanço para 55,20 pontos. Já o relatório ADP de emprego no setor privado revelou a criação de 291 mil vagas de trabalho no mês passado, contra 154 mil esperadas.
“Os dados americanos estão mostrando aquecimento na economia, e isso fortalece o dólar. Amanhã, o mercado deve ter atenção redobrada ao Relatório de Emprego [que sai às 10h30 no horário de Brasília]”, avalia.
Ao mesmo tempo, Faria Jr. entende que a balança comercial brasileira já está prejudicada pelo acordo comercial EUA-China, que obrigou os chineses a comprar soja e petróleo dos americanos (aumentando a nossa concorrência nesses produtos), e agora o País ainda terá que enfrentar uma redução no crescimento chinês como reflexo do surto de coronavírus.
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, comenta que os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) também mostraram um cenário preocupante para a economia brasileira. “Tivemos uma produção de carros mostrando algum fôlego, mas a venda e a exportação despencaram em janeiro, dando mais insumos para o mercado entender que a economia ainda tem bastante potencial para evoluir”, avalia.
“O dólar pode até voltar para os R$ 4,00, mas com o cenário internacional que temos hoje o mais provável é que a moeda se estabilize em patamares mais elevados”, diz Faria Jr.
Já com relação à Bolsa, o analista Gabriel Fonseca, da XP Investimentos, destaca que o comunicado mais cauteloso do Comitê de Política Monetária (Copom) ontem gerou um certo desconforto.
“O mercado precificava queda de juros e não é mais possível sustentar essa posição”, explica. Lembrando que quando a Selic fica menor a Bolsa tende a subir porque a atividade econômica pode ser acelerada e o rendimento dos títulos de renda fixa cai.
Para Fonseca, os bons dados nos EUA indicam uma pausa nos cortes de juros por lá, o que vaza como risco para bolsas de países emergentes, já que investir em ativos dos EUA é mais seguro. No entanto, o analista ressalta que isso não muda a sua visão estrutural para o Ibovespa, que é positiva em Bolsa no longo prazo.
Desempenho
O Ibovespa teve queda hoje de 0,72% a 115.189 pontos com volume financeiro negociado de R$ 28,189 bilhões.
Enquanto isso, o dólar comercial registrou alta de 1,1% a R$ 4,2852 na compra e a R$ 4,2859 na venda, renovando máxima histórica nominal. O dólar futuro para março avança 1,1% a R$ 4,287.
Mais cedo, o câmbio chegou a cair, pois a decisão tomada ontem pelo Copom teoricamente seria positiva para o real. Se a Selic não cair a menos de 4,25%, como ficou claramente sinalizado no comunicado que não deve ocorrer, diferencial de juros entre Brasil e EUA não cai tanto quanto muitos esperavam, o que seria bom para as operações de carry trade.
Todavia, Faria Jr. destaca que o cenário externo acabou se sobrepondo a essa análise, pois mesmo as taxas se mantendo em 4,25% ao ano, o diferencial de juros não é tão atrativo assim se as taxas nos EUA se mantiverem entre 1,5% e 1,75%.
No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 teve alta de 10 pontos-base a 5,02%, o DI para janeiro de 2023 avançou 12 pontos-base a 5,54% e o DI para janeiro de 2025 ganhou 10 pontos, a 6,17%.
Mais Copom
No comunicado da véspera, o Copom indicou o fim do ciclo de redução de juros, afirmando que “vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”.
Mario Mesquita, do Itaú, destacou que o BC deve manter taxa inalterada em 4,25% até fim do ano; Copom utilizou “interromper” ao invés de “finalizar”, o que indica que pode, eventualmente, em circunstâncias apropriadas, revisitar a questão.
Já a Fitch afirmou que enxerga as taxas de juros brasileiras em um patamar mais baixo pelo resto do ano. Segundo os executivos da agência de classificação de risco, a economia real brasileira ainda não está indo bem.
China anima bolsas
Lá fora, as bolsas fecharam nas máximas históricas depois da China cortar de 10% para 5% as tarifas de importação sobre alguns produtos americanos e de 5% para 2,5% para outros. A redução nas taxas, que foram impostas em setembro de 2019 no âmbito da guerra comercial, beneficia um total de US$ 75 bilhões em produtos dos Estados Unidos. Em contrapartida, no dia 14, os EUA vão cortar de 15% para 7,5% as tarifas sobre US$ 150 bilhões em produtos chineses.
A notícia de redução de tarifas animou os mercados ao se somar à esperança de contenção do coronavírus após informações de possíveis desenvolvimentos de vacina do coronavírus. A doença já infectou 28 mil pessoas e matou 560.
Apesar do avanço no número de casos gerar temores, especialistas dizem que é algo natural, visto que há mais de 50 mil casos suspeitos de coronavírus na China e, mesmo que não haja mais nenhuma transmissão, as estatísticas de infectados devem aumentar conforme saem os resultados de exames sobre todas as pessoas com suspeita de estarem com o vírus.
Noticiário corporativo
A Localiza Hertz (RENT3), maior locadora de carros do Brasil, fará uma emissão de debêntures no valor de R$ 1 bilhão, com vencimento para 2025. A empresa decidiu realizar a emissão após reunião do Conselho na sede, em Belo Horizonte (MG). Já a Sanepar, Companhia de Saneamento do Paraná, também planeja realizar uma emissão de debêntures em breve, no valor de R$ 350 milhões. Os papéis terão vencimentos em 2027 e 2029.
Maiores altas
Ativo | Variação % | Valor (R$) |
---|---|---|
CIEL3 | 4.6875 | 7.37 |
WEGE3 | 3.5533 | 42.84 |
PETR4 | 2.74745 | 29.17 |
PETR3 | 2.69029 | 31.3 |
EMBR3 | 1.30364 | 18.65 |
Maiores baixas
Ativo | Variação % | Valor (R$) |
---|---|---|
BRKM5 | -7.46138 | 31.75 |
MRVE3 | -4.9537 | 20.53 |
ELET3 | -4.15789 | 36.42 |
FLRY3 | -4.0597 | 32.14 |
BRML3 | -3.97906 | 18.34 |
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) arrecadará R$ 22 bilhões com a venda das ações da Petrobras (PETR3; PETR4), informou a Folha de S. Paulo. Em oferta concluída ontem, os investidores se comprometeram a pagar R$ 30 por ação. É a maior operação de venda de ações ocorrida no Brasil em uma década, em termos nominais. O maior valor foi registrado em 2010, quando a Petrobras levantou R$ 120,3 bilhões no mercado de capitais.
A Cia. Hering (HGTX3) anunciou novo programa de recompra de até 1,49 milhão de ações, o que corresponde a 1,17% do total de papéis ordinários em circulação. Segundo a varejista, a recompra é para permanência em tesouraria e posterior alienação ou cancelamento, bem como para utilização em planos de opção de compra de ações ou outras formas de remuneração baseada em ações.
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